🔥 Incêndios: até quando os empresários vão perder tudo antes de perceber que risco gere-se, não se lamenta?
- Rita Maria Nunes

- 31 de out.
- 3 min de leitura
Nos últimos dias, vimos hectares consumidos em minutos, empresas destruídas, explorações agrícolas reduzidas a cinzas e negócios a fechar sem previsão de reabertura.
E a pergunta que não quer calar é: Srs. Empresários, o que estão a fazer na gestão de risco do vosso negócio?
A tragédia anunciada
Portugal não pode dizer-se surpreendido pelos incêndios. Eles repetem-se todos os anos, com destruição, perdas financeiras e falências.
Mesmo assim, a reação empresarial é sempre a mesma: choque, lamento e espera por apoios estatais.
Mas o que está em causa não são só números. São anos de trabalho reduzidos a pó porque nunca se assumiu que o risco faz parte do jogo empresarial.
A ilusão da invulnerabilidade
Muitos empresários acreditam que gerir bem é vender mais e cortar custos. Esquecem-se de que a verdadeira boa gestão começa na capacidade de prever, mitigar e absorver choques.
Pergunto:
Quantos têm seguros atualizados que cobrem catástrofes?
Quantos têm reservas financeiras para sobreviver meses sem faturar?
Quantos têm um plano mínimo de continuidade de negócio?
Quantos sabem a quem ligar no primeiro dia de crise?
Se a resposta for "poucos", então não falamos de fatalidade. Falamos de falha estrutural.
O erro da dependência
Sempre que há tragédia, a pergunta é: "Que apoios vai dar o Estado?"
Empresários, o Estado não pode ser o vosso seguro de vida. A responsabilidade de proteger o vosso negócio é vossa!
Se a única solução é pedir fundos europeus ou crédito, significa que não estão a gerir risco, apenas a esperar que alguém vos ajude. E quando a ajuda chega… já pode ser tarde.
Maus conselhos, más escolhas
Outro problema é a assessoria fraca. Muitos estão rodeados de “consultores” que confundem conceitos de gestão e nem falam de avaliação e mitigação de riscos.
Gestão de risco é:
Identificar riscos críticos.
Calcular impacto financeiro.
Implementar mecanismos preventivos.
Ter parceiros preparados para o pior dia.
O choque não devia ser não haver apoios. O choque devia ser as empresas não estarem minimamente preparadas.
Exemplos simples
Hotéis em zonas florestais deviam ter protocolos de evacuação e seguros adequados.
Agricultores deviam diversificar produção ou usar proteção de preços.
Fábricas deviam ter backups digitais e planos de continuidade.
Mas a maioria prefere “remendar paredes” em vez de estruturar a casa. E quando o fogo chega, não sobra nada.
O custo do amadorismo
Só este ano, as perdas diretas ultrapassam, segundo a Ordem dos Economistas, mais de 700 milhões de euros.
Cada empresa que fecha representa:
Menos concorrência saudável,
Menos inovação,
Mais dependência de subsídios,
Mais descrédito no tecido empresarial.
O que devia ser feito
Planos de risco obrigatórios, ainda que básicos. É importante começar por algum lado.
Seguros adequados, não apenas “o mais barato”. Trabalhando corretamente a carteira de seguros do negócio.
Reservas financeiras estratégicas. Porque às vezes as coisas correm mal, e isso não devia ser um problema mas sim parte do negócio.
Consultoria estratégica qualificada, não apenas fiscal e financeira para perceber onde vou poupar mais impostos ou ter acesso a mais linhas e apoios do estado.
Cultura de prevenção em vez de improviso!
A reflexão que vos deixo
O risco é parte da atividade económica. Ignorá-lo não o elimina, só o adia.
Se nada mudar, vamos repetir o ciclo: negligência → tragédia → espera por apoios → dificuldades → esperança de que para o ano será diferente.
Mas não será.
A liberdade de empreender vem com responsabilidade. Gerir não é só procurar lucro, é criar estruturas capazes de resistir às inevitáveis tempestades.
Então deixo-vos a pergunta: o que estão a fazer pela gestão de risco do vosso negócio?
Se a resposta for "nada", talvez seja altura de repensar a estratégia.




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