O verdadeiro conflito não é Trabalhador vs. Empresa: é Portugal vs. O Progresso
- Rita Maria Nunes

- 11 de dez.
- 3 min de leitura
Hoje é dia de greve geral. Mais uma. E, como sempre, protestamos contra mudanças à lei laboral, como se a legislação fosse o último bastião que protege o trabalhador português.
Mas deixo uma pergunta incómoda: Porque é que os países com leis laborais mais flexíveis são os países onde os trabalhadores vivem melhor?
Portugal vs. Economias Desenvolvidas: O Comparativo que Raramente Queremos Fazer
Vamos olhar para alguns modelos que funcionam: Dinamarca, Holanda, Suíça e mesmo economias altamente competitivas como Singapura.
1. Contratação e despedimento
Portugal:
Leis rígidas
Processos longos
Litígios caros
Despedimentos que se evitam a todo o custo
Resultado? Empresas relutantes em contratar, empregos pouco dinâmicos e trabalhadores “presos” por medo.
Dinamarca / Holanda / Suíça:
Contratação simples
Despedimento possível, claro e rápido
Regras transparentes
Resultado? Mercado laboral fluido, com baixa taxa de desemprego e rápida reinserção.
2. Segurança durante a transição
Portugal: A proteção centra-se no posto de trabalho. Se perder o emprego, o sistema cai-lhe em cima: burocracia, apoios modestos e pouca requalificação.
Dinamarca (modelo de flexigurança): A proteção centra-se no trabalhador, não no contrato.
Fortes apoios no desemprego
Requalificação obrigatória e contínua
Reintegração rápida no mercado
Por isso é que conseguem ser flexíveis: ➡ Despedir não destrói vidas. ➡ Mudar de emprego não é um drama nacional.
3. Produtividade e salários
Portugal: Produtividade baixa → salários baixos → pouco investimento em formação → ciclo repete-se.
Suíça / Holanda / Dinamarca: Produtividade elevada → salários elevadíssimos → investimento estratégico em competências → ciclo virtuoso.
Estes países não têm leis laborais rígidas para “proteger” salários. Têm economias fortes que os sustentam.
4. Relação trabalhador – empresa
Portugal: Uma relação de desconfiança. A lei tenta colmatar essa desconfiança com rigidez, como se um contrato blindado resolvesse problemas estruturais.
Economias avançadas: Relação baseada em transparência, accountability e competência. A legislação cria um ambiente de movimento, não um ambiente de medo.
E por isso afirmo sem hesitar: sou a favor de leis laborais fortes, mas jamais de leis que congelam o país.
A força de uma lei não está na sua capacidade de impedir mudanças. Está na sua capacidade de permitir que empresas e pessoas cresçam com segurança. Portugal discute a lei laboral como se estivesse numa trincheira ideológica dos anos 80. Mas o mundo avançou. Os modelos que funcionam estão aí. E têm um padrão claro: Flexibilidade + proteção ao trabalhador = economias prósperas, salários altos e mobilidade real.
Nós continuamos presos no modelo: “Se a lei for rígida, o trabalhador está protegido.” Mesmo que a evidência mostra exatamente o contrário.
A greve de hoje não é sobre a lei. É sobre o medo.
O medo de mudar. O medo de comparar Portugal com quem faz melhor. O medo de aceitar que produtividade, qualificação e gestão contam mais do que decretos.
E é por isso que continuamos num ciclo de:
Salários baixos
Baixa produtividade
Empresas pouco competitivas
Jovens a emigrar
Estado a legislar para tapar buracos
Enquanto isso, os países que abraçaram a flexigurança vivem outra realidade:
✔ trabalhadores mais valorizados ✔ salários mais altos ✔ economias mais competitivas
✔ empresas mais responsáveis ✔ mobilidade profissional sem drama
O que falta a Portugal não é mais rigidez. É coragem.
Coragem para aprender com quem faz melhor. Coragem para modernizar, não para cristalizar. Coragem para legislar para o futuro, e não para repetir o passado.
Hoje fazemos greve contra uma revisão da lei laboral. Mas o verdadeiro protesto devia ser contra a ausência de um modelo económico que permita que trabalhadores e empresas prosperem juntos.
Enquanto não encararmos isto, continuaremos a lutar batalhas antigas num país que precisa desesperadamente de novas soluções.




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